sexta-feira, 22 de março de 2013

ESPARTA


Ela era mais democrática do que se imagina e tão heróica quanto as lendas contam. Conheça a verdade da cidade mais controversa da Grécia antiga
  Mesmo para os turistas do Império Romano, gente mais do que acostumada a espetáculos sangrentos, aquela era uma atração especial. O sucesso era tanto que, por volta do ano 200 da nossa era, até a construção de um anfiteatro em volta do templo foi autorizada, para que os visitantes pudessem acompanhar cada detalhe do ritual. Um adolescente nu tentava apanhar o queijo depositado sobre o altar da deusa Ártemis, enquanto um dos sacerdotes o chicoteava sem dó, fazendo o sangue espirrar no altar. O jovem que agüentasse mais era saudado como campeão – isso quando tinha a sorte de sobreviver à cerimônia. Os estrangeiros provavelmente deixavam o anfiteatro romano muito satisfeitos: tinham testemunhado um legítimo costume da lendária cidade-Estado de Esparta.
  Para muita gente, a imagem de um adolescente torturado resume à perfeição o significado de Esparta para a história. Na escola, aprendemos que, entre as cidades gregas de 2500 anos atrás, Atenas foi o berço da democracia e da liberdade de pensar e criar que valorizamos tanto, enquanto os espartanos viviam sob um regime totalitário, cuja única preocupação era a guerra, e submetiam os jovens ao treinamento militar mais desumano do planeta. Desse ponto de vista, passar de superpotência grega a parque temático sadomasoquista teria sido um destino mais do que merecido.
  Acontece que, assim como a visão dourada de Atenas, essa imagem dos espartanos não passa de caricatura. Em 4 grandes batalhas contra os persas os espartanos ajudaram a proteger o que seria a origem do mundo ocidental. Por mais estranho que isso soe agora, Esparta esteve entre as primeiras cidades gregas a criar um governo constitucional, onde todo cidadão era igual diante da lei, e seus exércitos foram vistos como libertadores perto da ambição de Atenas. Por tudo isso, vale a pena tentar enxergar através das distorções que cercam a cidade mais controversa da Grécia.

Conquistadores
  Mito e arqueologia concordam num ponto: Esparta é um produto do primeiro grande desastre da história grega. Até por volta do ano 1200 a.C., o Peloponeso (como é conhecida a região do extremo sul da Grécia, onde fica a cidade) estava cheio de pequenos reinos. Inscrições e objetos achados nos palácios do Peloponeso mostram que seus habitantes já falavam uma forma primitiva de grego e levavam uma vida de luxo, comerciando cerâmica, metais preciosos e marfim com o Egito, a Palestina e a atual Turquia.

  Uma onda de invasões e saques, porém, acabou com essa vida mansa. Boa parte dos grandes palácios do Peloponeso foi queimada, e a região voltou a ter um estilo de vida rústico e rural durante cerca de um século. É então que, pouco antes do ano 1000 a.C., como sugerem mudanças na cerâmica e em outros objetos do dia-a-dia, chegou ali um novo povo: os dórios, ancestrais dos espartanos.

  Na mitologia grega, a chegada dos dórios ficou conhecida como “o retorno dos filhos de Héracles”. Os descendentes desse herói (conhecido entre nós como Hércules) seriam os legítimos herdeiros dos reinos do Peloponeso, expulsos injustamente de lá. Mas os filhos de Héracles reuniram um exército, formado por 3 tribos do norte da Grécia, e recuperaram no braço o que era seu. A parte da herança é claramente invenção para legitimar a invasão, mas os dórios realmente tinham uma origem étnica comum e falavam um dialeto nortista.

  Parte dos recém-chegados ocupou a Lacônia, o vale fértil do rio Eurotas, e fundou 4 vilarejos perto de um assentamento da época dos palácios. Por volta do ano 900 a.C., as 4 aldeias se uniram politicamente para formar Esparta. Unificada, a cidade partiu para uma expansão das mais respeitáveis. Toda a Lacônia caiu nas mãos de Esparta: alguns habitantes (provavelmente os que resistiram aos ataques) engrossaram as fileiras dos servos, chamados de “hilotas”, enquanto outras aldeias conseguiram manter a autonomia interna, desde que reconhecessem a soberania espartana. Os moradores desses lugares ficaram conhecidos como periecos (“os que habitam em volta”). A expansão foi até por volta do ano 700 a.C., quando a cidade, sozinha, dominava dois quintos do Peloponeso.


Democráticos

  Tantas conquistas, claro, trouxeram prosperidade. “Historiadores como o francês Claude Mossé consideram que, já no século 7 a.C., Esparta tem uma aristocracia amante das artes e desenvolve atividades comerciais marítimas”, diz a historiadora Maria Aparecida de Oliveira Silva, autora do livro Plutarco Historiador. Os poetas e músicos de Esparta ficaram conhecidos na Grécia inteira, e sua elite levava uma vida luxuosa, com finos objetos de bronze e metais preciosos fabricados localmente ou importados da Ásia. No entanto, há indícios de que só alguns espartanos se beneficiaram de verdade com as vitórias, virando senhores do grosso das novas terras, enquanto outros empobreciam. Em outras palavras: tensão social – que veio acompanhada por problemas militares para conter as constantes rebeliões.

  A tradição espartana, que chegou até nós por relatos de historiadores como Heródoto, Xenofonte e Plutarco, diz que a solução para esses problemas foi bolada pelo sábio Licurgo, tio e tutor de um dos reis da cidade. Ele teria implantado uma reforma política profunda. Todos os cidadãos – ou seja, todos os homens livres de Esparta – passaram a eleger os 28 membros da Gerúsia, o Conselho dos Anciãos, encarregado de elaborar as leis da cidade. Os reis continuaram a ter uma série de privilégios simbólicos (o mais bizarro era o direito de ficar com a pele e o lombo de todos os animais sacrificados aos deuses), mas, na prática, viraram simples generais hereditários. O poder de decisão final ficava nas mãos do damos – o povo, versão dória da palavra que é uma das raízes do termo “democracia”.

  Reunidos em assembléia, os homens de Esparta podiam aprovar ou vetar as propostas da Gerúsia, usando um método que parece ter saído de um programa de auditório – o “sim” ou o “não” ganhava dependendo da quantidade de barulho produzida de cada lado. Houve também uma reforma agrária: cada espartano recebeu um lote de terra suficiente para sustentar sua família. A reforma se completou mais tarde com o surgimento dos éforos, 5 magistrados eleitos anualmente por todos os espartanos que, na prática, passaram a deter a maior parte do poder de executar as leis.

  Na época em que foi criado, esse sistema era revolucionário. O Oriente Médio ainda era dominado por monarcas absolutos, considerados semideuses. Atenas, futuro símbolo da democracia, estava nas mãos de um grupo minúsculo de famílias nobres e ricas, assim como outras cidades gregas. Esparta parece ter inventado a idéia de que mesmo um plebeu pobre tinha o direito de eleger seus representantes e ser eleito, e de que ninguém, nem mesmo os reis, estava acima da lei. Não é só conversa: a história espartana está cheia de relatos sobre soberanos que pisaram na bola e foram presos ou exilados. Os hilotas e periecos, é verdade, continuavam sem direitos políticos – mas o mesmo valia para a massa de escravos em todas as outras cidades gregas.

  A partir daí, numa sociedade quase democrática, começou a se criar a futura fama de Esparta como potência militar. Também por volta do século 7 a.C., os gregos passavam por uma revolução na arte da guerra. Antes, o costume era que só os nobres e sua guarda pessoal lutassem, e os combates não passavam de expedições pequenas para roubar o gado ou as mulheres da vila vizinha. Mas a população e a riqueza da Grécia tinham crescido, e os conflitos cresciam na mesma proporção. O ideal era juntar o máximo possível de soldados no campo de batalha. Os exércitos das cidades-Estado passaram a agir como grandes unidades: os guerreiros, usando pesadas armaduras de bronze e lanças, só eram eficazes lutando em conjunto. O escudo protegia só o lado esquerdo de quem o carregava: o outro lado do corpo era resguardado pelo escudo do soldado ao lado. Se alguém fraquejasse, todos eram prejudicados. Ora, se a massa dos cidadãos passa a ser importante na guerra, a cidade não tem como se defender sem eles. Isso coloca um poder considerável nas mãos do damos de Esparta: o povo ganha força para exigir direito de voto ou uma fazenda nos arredores.

  O sucesso das reformas foi indiscutível. Enquanto a Grécia inteira passou do século 7 a.C. ao 5 a.C. sofrendo com ditadores e revoluções, Esparta virou um oásis de estabilidade.

  Para manter as conquistas e o sistema político, todo cidadão de Esparta passou a ser preparado desde pequeno para ser um supersoldado. O treinamento era conhecido simplesmente como agogué (“criação”, em grego). “A única descrição da agogué que temos é do ateniense Xenofonte, que escreve tarde, por volta do ano 400 a.C.”, afirma o historiador Paul Cartledge, da Universidade de Cambridge (Reino Unido). Segundo Xenofonte, os testes começavam no nascimento: os bebês eram lavados com vinho e levados aos anciãos de seu clã para inspeção. Os disformes ou fracos demais eram abandonados para morrer. (Até aí, nada de mais: todos os gregos praticavam o infanticídio em situações parecidas.) Os meninos ficavam até os 6 anos com a mãe; depois, passavam a ser criados em pequenos grupos por um supervisor, dormindo em barracões, aprendendo a cantar, dançar (exercícios adequados para se acostumar ao ritmo da marcha militar), ler e escrever.


  Quando chegava a adolescência, o cabelo dos garotos era raspado. Eram obrigados a usar apenas um manto leve, fizesse chuva ou sol, e a andar descalços o tempo todo. Recebiam pouca comida; podiam complementar a dieta roubando, mas, se fossem apanhados, levavam uma surra terrível. As chibatadas às vezes vinham em rituais religiosos, como o descrito no começo desta reportagem.

  Aprendiam a falar só o essencial – daí a expressão “laconismo”, derivada da Lacônia, o vale fértil onde Esparta foi fundada. “Seria mais fácil ouvir as vozes de estátuas de pedra do que as daqueles rapazes”, afirma Xenofonte. Os jovens praticavam a dança e o canto, em cerimônias elaboradas que simulavam os movimentos da guerra. Relacionamentos amorosos entre adolescentes e rapazes mais velhos eram comuns e até incentivados – os adultos eram considerados mentores dos mais novos.

  Aos 19 anos, o rapaz se tornava soldado pleno, mas ainda não era considerado cidadão. Deixava crescer o cabelo – todos os espartanos adultos tinham longas madeixas, que enfeitavam com flores. Podia se casar, mas ainda não tinha permissão de passar a noite com a mulher. Isso – junto com os outros privilégios da cidadania, como votar – só era possível quando ele fazia 30 anos. Uma última obrigação o acompanhava pelo resto da vida: fazer diariamente as refeições com sua unidade de combate, geralmente formada por 15 guerreiros espartanos. O prato principal costumava ser a intragável sopa negra, feita com cevada, sangue e carne de porco.

  Esse sistema tornava os espartanos resistentes e corajosos, mas sua principal função era criar espírito de equipe. A lenda de que os soldados de Esparta nunca se rendiam ou recuavam é balela: não havia vergonha nenhuma em baixar as armas se essa fosse a ordem do rei ou do general. Abandonar os companheiros é que era considerado intolerável, porque um escudo a menos na formação significava expor todo mundo ao risco de morte.

  Não havia glória maior do que tombar na linha da frente, morrendo lado a lado com os companheiros: essa, para os espartanos (e para a maioria dos outros gregos) era a “bela morte” (leia boxe na página 70). Mas eles só agiam como camicases quando não havia outra escolha. Uma frase registrada pelo historiador grego Tucídides é emblemática. Perguntaram a um espartano capturado se os colegas mortos tinham sido mais valentes que ele. “As flechas seriam muito espertas se conseguissem distinguir os valentes dos covardes”, retrucou o guerreiro. “Essa é uma coisa na qual o filme 300 acerta: ele mostra esse humor negro com o qual os espartanos enfrentavam a guerra”, diz Paul Cartledge.

  Outro ponto que sempre se omite sobre Esparta é a condição das mulheres. Elas levaram uma vida bem melhor que as do resto da Grécia. Eram incentivadas a praticar exercícios físicos e a ficar ao ar livre, ao contrário das atenienses, quase sempre trancadas em casa. Também podiam herdar terras. “No entanto, isso não quer dizer necessariamente que as mulheres de Esparta fossem vistas pelos homens de forma diferente das outras gregas”, diz Isabel Romeo, historiadora da UFRJ que estuda o tema. “Para os gregos, a função da mulher era sempre ter filhos saudáveis. A diferença é que os espartanos achavam que, para desempenhar, ela precisava ter uma vida ativa”, afirma.

DEFENSORES

  O engraçado é que, embora o Exército espartano fosse mais poderoso do que nunca, a expansão direta da cidade parou. “Esparta temia que as cidades vizinhas apoiassem as revoltas dos servos e procurou alguma forma de convivência pacífica com elas”, diz Robin Osborne, da Universidade de Cambridge. Os espartanos forjaram uma aliança que acabaria englobando todo o Peloponeso. As cidades-Estado tinham voz nas decisões, mas era Esparta a cidade líder, que tinha mais peso na hora de ditar a política externa do bloco e decidir como e quando guerrear.

  Essa liderança relativamente democrática acabou sendo providencial para a Grécia. Enquanto as cidades-Estado continuavam brigando entre si, o Império Persa nascia e virava um gigante no Oriente, o grande inimigo dos gregos. Por volta de 540 a.C., as cidades gregas da Ásia caíram nas mãos dos persas. O novo império trouxe paz e estabilidade à região, mas também sufocou os desejos gregos de uma política mais democrática (os persas apoiaram ditadores fantoches por ali). O bolso grego também foi afetado, porque a Pérsia cobrava impostos ferozes e mutilava o comércio. Os gregos da Ásia se revoltaram, com o apoio de Atenas, mas levaram uma sova. A ajuda ateniense era a desculpa perfeita para a Grécia européia ser incluída no alvo das invasões. Assim pensou o rei persa Dario, cujo exército desembarcou perto de Atenas no ano 490 a.C.

  Nas primeiras batalhas, os persas foram totalmente derrotados. Mas até as pedras do Eurotas sabiam que a coisa não ia ficar por isso mesmo. Xerxes, filho e sucessor de Dario, jurou vingança e preparou o maior exército que o mundo já tinha visto (talvez 120mil soldados) e a maior marinha (cerca de 1000 barcos) para invadir a Grécia. Nenhum dos súditos do rei tinha muita escolha nessa história: todas as regiões do império tinham de contribuir com sua cota de homens, e a palavra de Xerxes era lei sagrada. Atenas e Esparta (que tinha apoiado os atenienses na primeira invasão) estavam no topo da lista negra de Xerxes. A lenda, reproduzida no filme 300, conta que as duas cidades tinham atirado dentro de um poço os mensageiros do rei, que pediam terra e água como sinal de submissão, dizendo: “Aí tendes terra e água”.

  Além de enfrentar o reino mais poderoso da época, a Grécia tinha que lidar com a desunião interna. Na primavera de 480 a.C., quando a segunda onda de invasões persas começou, poucas cidades gregas queriam saber de aliança. “De 700 cidades-Estado que poderiam ter se unido à resistência, só cerca de 30 o fizeram”, diz Cartledge. Dessas poucas cidades corajosas, metade integrava o grupo dos “lacedemônios”, como eram chamados os espartanos e aliados, grupo que hoje nós chamamos de Liga do Peloponeso. “A resistência simplesmente não teria sido possível sem a Liga do Peloponeso”, diz o historiador de Cambridge. A ela se juntaram Atenas e pequenas cidades, como Plataia.

  O comando supremo, tanto na terra quanto no mar, ficou nas mãos de Esparta, já que ela era a líder do bloco que formava o coração da resistência. Mais do que o comando, porém, os aliados tinham do seu lado os soldados espartanos, “a infantaria pesada mais bem treinada da Grécia – na verdade, a única infantaria profissional de que os gregos dispunham”, afirma Peter Green, professor da Universidade do Texas em Austin e um dos principais especialistas nos conflitos entre gregos e persas.

  Os líderes espartanos nem sempre estiveram à altura de seus guerreiros. Há sinais de que a cidade e os outros membros da liga queriam se arriscar o mínimo possível fora do Peloponeso. Essa é uma das explicações (além da coincidência de um festival religioso, durante o qual Esparta normalmente não guerreava) para o fato de que o rei Leônidas tenha levado consigo só 300 espartanos para o desfiladeiro das Termópilas, no centro-norte da Grécia. A missão dos 300, ao lado de cerca de 7 mil aliados gregos, era tentar impedir o avanço de Xerxes em terra, enquanto a frota grega adotava a mesma estratégia no mar, no estreito de Artemísio.


  Por 3 dias, Leônidas e os 300 – que foram vistos penteando os longos cabelos com toda a calma quando os primeiros persas surgiram – detiveram forças imensamente superiores e mataram dois irmãos de Xerxes. Mas sua retaguarda não estava bem coberta. Graças a um grego traidor, Leônidas acabou cercado e lutou até a morte com seus homens e mais 1000 voluntários aliados, ganhando tempo para que o resto do exército fugisse. Xerxes mandou decapitar o rei e crucificar seu corpo.


  A sorte grega deu uma guinada cerca de um mês depois, quando a frota aliada destroçou as trirremes persas na ilha de Salamina, perto de Atenas. O próprio Xerxes decidiu voltar para a Ásia e, no ano seguinte, suas forças terrestres foram esmagadas pelo sobrinho de Leônidas. Os persas jamais pisariam outra vez na Grécia européia.

Personagens

  Depois de botar os estrangeiros para fora, a Grécia pôde viver seu esplendor. Em Atenas, um ano depois de os persas darem no pé, nasceu Sócrates, um dos grandes alicerces da filosofia ocidental, seguido por Platão e Aristóteles. Com os invasores contidos, a obra deles e de pensadores anteriores, como Tales de Mileto e Pitágoras, pôde sobreviver até hoje. Em 438 a.C., no lugar de um antigo templo destruído pelos persas, Atenas construiu o Partenon, símbolo máximo do período clássico grego.

  No entanto, já que derramar sangue era como um passatempo para os gregos, as guerras não pararam por ali. As cidades voltariam a lutar entre si: Atenas, poderosa demais depois de vencer os persas, se tornou um império maldoso demais para as cidades conquistadas. Aliados de Atenas mandavam mensagens secretas para os espartanos, suplicando que eles “libertassem a Grécia”. O conflito era só uma questão de tempo – e as alianças passaram as 3 últimas décadas do século 5 a.C. afundadas nele. A guerra terminou com a vitória de Esparta, financiada por ouro persa.

  A influência espartana agora dominava a Grécia inteira. Mas, sem o menor tato, os espartanos instalavam governadores militares impopulares ou apoiavam oligarcas que perseguiam os opositores políticos. O resultado? Mais guerra, dessa vez promovida por um novo poder: a cidade de Tebas, ao norte de Atenas. O confronto decisivo entre a desafiante e a campeã aconteceu na Batalha de Leuctra, em 371 a.C. A derrota de Esparta foi completa. A cidade virou ruínas. Tornou-se irrelevante e foi absorvida pelo Império Romano, junto com o resto da Grécia, em 146 a.C.

  Diante da arte e do pensamento ateniense, pode parecer que Esparta só teve importância militar. Mas não é de mais voltar a 480 a.C. e ao punhado de homens que ousou se colocar no caminho dos persas. Heródoto diz que um rei espartano exilado, Damárato, acompanhava Xerxes nas Termópilas. O rei persa teria perguntado se os espartanos, sendo tão poucos, ousariam enfrentá-lo. “Rei”, respondeu Damárato, “embora sejam livres, eles não são livres em tudo. Acima deles está a lei, um senhor a quem eles temem muito mais do que os teus servos têm medo de ti. Eles fazem o que a lei ordena, e a sua ordem é esta: não fugir diante de nenhuma multidão de homens, mas ficar em seus postos.” Poucas idéias foram tão capazes de mudar o mundo.

]Fonte Super Interessante. Abril Cultural

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A BAIXA IDADE MÉDIA


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A BAIXA IDADE MÉDIA


O comércio no mediterrâneo e na  Europa continental durante a  Baixa Idade Média 



   A partir do final da Idade Média dois grandes movimentos comerciais  se manifestavam na periferia da Europa, um no mediterrâneo Ocidental e no Adriático e outro no Báltico e Mar do Norte. A atividade comercial que corresponde à necessidade de aventuras e ao afã do lucro inerente a natureza humana é a índole contagiosa do período.
   As nações como Veneza, em cujo solo nada cresce, vendia aos seus vizinhos não só mercadorias, mas também a fé cristã,  onde também  prosperavam e ampliavam uma nova forma de navegação pelo Mediterrâneo que impulsionada pelos cruzados associados ao deslocamento por mar de massas de homens  marchavam para Jerusalém e  ajudaram nas conquistas de lucros e territórios no Oriente.  
É importante destacar que o renascimento do comércio marítimo, desde o princípio, coincide com sua penetração no interior da Europa, onde uma indústria orientada para exportação começava a nascer. O campo e a cidade participaram admiravelmente deste momento e direcionaram sua produção para o plantio do trigo e vinhos ou a fabricação de tecidos de linho e lã. As modificações que se processaram nesse período ainda estão longe do capitalismo estruturado do século XVI quando se consolidaria no período Mercantilista, porém, já podemos identificar o capitalismo em sua forma embrionária.

  O declínio do Sistema Feudal associa-se a questões muito bem conhecidas que devem ser recordadas  como importantes para caracterizar uma nova Europa e o  desenvolvimento de novas forças produtivas e  seus desdobramentos. Tomemos como matéria prima deste “continuum processo histórico”,  alguns fatos que podem ser colocados em destaque e não em ordem obviamente, que são: A reabertura do Mediterrâneo, o crescimento das cidades, o aparecimento de grandes feiras, o uso frequente da moeda, o desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, o fortalecimento de nações, o fim gradativo da servidão, o desenvolvimento das técnicas de navegação, o aparecimento da burguesia, do sistema bancário, do trabalho assalariado,  além de inúmeras outras mudanças  que  fazem deste período um momento revolucionário.
Entre os séculos XIV e XV observaremos o ápice da crise do antigo sistema Feudal onde as guerras, a peste e fome assolam a Europa castigando os povos com seu flagelo, no entanto é a partir deste momento que observaremos o salto significativo do comércio europeu para o seu fortalecimento e posteriormente a conquista de outros continentes.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A 146 ANOS NA CIDADE DO RECIFE ERA INAUGURADA A MAXAMBOMBA


Todos nós sabemos que a primeira linha de estrada de ferro  no Brasil chega em meados do século XIX  através dos investimentos feitos pelo barão de Mauá e de suas associações com os  capitais ingleses. Válido ressaltar que as estradas de ferro se espalhavam pelo mundo inteiro como parte integrante da expansão do setor industrial para outros países e continentes devido a saturação dos investimentos no setor na própria Inglaterra. O Brasil não deixou de ser um receptáculo de tecnologias neste período, exportadas principalmente pela Segunda Revolução Industrial.  Esta situação era inimaginável antes de 1850 em um país onde a mão de obra era  predominantemente escrava e onde as forças produtivas encontravam-se  principalmente voltadas para o setor agrícola. De certo modo, experimentamos os doces frutos do progresso em alguns setores e até identificamos o período como  a Era Mauá, em uma referência ao grande empreendedor brasileiro da época.

Título do Banco Mauá no Uruguai onde o empresário tinha ramificações



Dentre as novidades que aparecem no setor ferroviário está o primeiro trem urbano da América Latina na cidade do Recife conhecido como maxambomba, provavelmente uma corruptela de machine pum (o trem era movido por uma bomba mecânica). O sistema que vinha atender a demanda crescente de exportação de açúcar e ao mesmo tempo a população crescente do Recife foi inaugurado a 5 de janeiro de 1867 e foi uma concessão do governo brasileiro a Brazilian Street Railway companhia com sede na Inglaterra. A ferrovia chegou a ter 22 quilômetros e muitos dos hábitos de toda a cidade na época e de sua estrutura urbana foram modificados. O comércio passou a funcionar após as 18 horas e fechar as 21 horas sem mo em pequenas cidades próximas de Recife, as distâncias se encurtaram, passagens de trem barateavam produtos e transportavam riquezas. A maxibomba revolucionava o atraso e prescrevia o futuro daquele Brasil que não somos mais. ( Este texto é de responsabilidades do administrador do Blogger)






A maxambomba na estação de Uchoa

Aspectos de uma das primeira maxambombas da cidade do Recife

domingo, 30 de dezembro de 2012

MÉXICO REBELDE I



BENITO JUÁREZ  - MURAL DE OROSCO 



Dos ventos revolucionários que sopraram no século XX, talvez o mais impactante tenha sido o da Revolução Mexicana de 1910 a 1917. Ao lado de outros países da América Latina que tentaram desenvolver as potencialidades da economia primária de exportação e consolidação do Estado Nacional, a Revolução Mexicana é inigualável  pelo seu teor popular , na qual a massa camponesa se manifesta como espectro político em uma guerra que durou sete anos.

BENITO

No tempo da excomunhão do líder político Benito Juárez pelo papa Pio XI no século XIX a igreja e o exército eram atacados pelos Liberais. A Igreja possuía pelo menos metade das terras mexicanas e a outra metade estava sob o comando de um punhado de grandes proprietários.  Uma nova lei, conhecida como a lei Lerdo, proibira a igreja a possuir bens imóveis. Uma nova Constituição foi promulgada (1857) e o México governado por Juárez foi invadido por potências imperialistas, estabelecendo uma monarquia sob o comando de Maximiliano da Áustria. Apoiado pelos EUA  o presidente Juárez  derrota Maximiliano que é fuzilado em 1867. Benito Juarez foi reeleito por vários anos e governa o  México até 1872 . Após a sua morte entra em cena o general José da La cruz Porfírio Dias, estabelecendo uma ditadura que durou onze anos.



       TRAJE DE PORFÍRIO DIAS PRESIDENTE 
MUSEU DE SANTO DOMINGO OAXACA  MÉXICO





DIAS POSANDO PRÓXIMO A PEDRA DO SOL


ASSISTA O VÍDEO SOBRE BENITO JUÁREZ 



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL


IMAGENS E REPRESENTAÇÕES DO NATAL NO TEMPO


Krampus é uma criatura mitológica que acompanha São Nicolau durante a época do Natal. A palavra Krampus vem de Krampen, do alemão "garra". Nos Alpes, Krampus é mrepresentado por uma criatura semelhante a um demônio que avisa e  pune as más crianças.



Krampus e São Nicolau visitam uma casa vienense - 1896



Incrível trégua não oficial no Natal de 1914 entre ingleses e alemães na Primeira Guerra Mundial é representada aqui em uma gravura da época.
"A maioria das confraternizações se deu nos 50 quilômetros entre Diksmuide (Bélgica) e Neuve Chapelle. Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores – instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo. Seus países haviam sido invadidos (no caso da Bélgica, 90 por cento de seu território estava ocupado), para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo. Em Wijtschate, na Bélgica, uma pessoa em particular também ficou muito irritada com a situação. Lutando ao lado dos alemães, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles." Fonte: Aventura na História


MITRA O DEUS DO SOL


   O cristianismo  comemorou  o nascimento de Jesus pela primeira vez no ano 354. A  festa pagã, chamada de Natalis Solis Invicti ("nascimento do sol invencível"), era uma homenagem ao deus persa Mitra, popular em Roma. As comemorações aconteciam durante o solstício de inverno, o dia mais curto do ano. 


NATIVIDADE MÍSTICA BOTTICELLI ( 1445-1510)



ZEITGEIST

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O GÊNIO DOS CÁRPATOS




A 23 anos,  no dia 22 de dezembro de 1989 , desaparecia do leste europeu a ditadura romena de Nicolau  Ceausesco  que no auge de seu poder conferiu a si próprio o título de  "gênio dos cárpatos" e "grande dirigente" . Depois de capturado o ditador foi julgado e imediatamente fuzilado no interior da Romênia com sua esposa Helena.


   O final da Guerra Fria não foi apenas moldado pela política estratégica de Reagan em conjunto com a crise estrutural do comunismo. Igualmente essencial foi o apoio demonstrado pelo Ocidente em relação à liberalização do sistema comunista. Até certo ponto, os parceiros do Ocidente neste processo eram um conjunto de líderes comunistas que desejavam uma reforma do sistema. Mas mais importante do que isso foi a oposição democrática que começou a emergir em meados dos anos 1970 no seio de alguns estados comunistas (os primeiros grupos da oposição anticomunista não tinham qualquer apoio por parte do Ocidente).
   O processo da CSCE (Conferência de Segurança e Cooperação Europeia) veio criar as condições que possibilitaram tudo isso. Da conferência resultaram os Acordos de Helsínqui, assinados pelos líderes ocidentais e do Leste da Europa. Os acordos obrigavam os seus signatários a respeitar os direitos humanos, o que permitia a ligação dessa vertente com outras esferas das relações entre estados, incluindo as questões econômicas e de segurança. Os princípios da Ata Final abriam a possibilidade de os estados ocidentais usarem o comércio e as políticas de empréstimos para exercer pressão sobre os governos comunistas. Esses princípios também acabaram por lançar as bases da legitimação das atividades da oposição democrática.                   Questões de direitos humanos, liberdades fundamentais e a autodeterminação nacional eram o tópico primordial de debate e de negociação durante a CSCE. No decorrer das negociações os estados comunistas aperceberam-se de que se não fizessem concessões naquelas áreas ver-se-iam isolados e privados do apoio ocidental para as suas reformas econômicas
   Como hoje sabemos, o resultado cumulativo destes processos foi a derrocada espantosamente rápida, embora relativamente pacífica, do comunismo, primeiro nos países da Europa Central (1989) e pouco depois na União Soviética (1991). Esses acontecimentos na Europa Central receberam a designação de «Primavera dos Povos», embora, erradamente, alguns autores polacos lhe chamem o «Outono dos Povos». Trata-se aqui de uma «primavera» metafórica (à semelhança do que aconteceu com a original Primavera dos Povos, em 1848, que na verdade teve início em Fevereiro), uma Primavera que consistia na independência renovada das nações daquela região. De fato, a Primavera de 1989 começou em Abril, com o acordo da Mesa-Redonda polaca, um enorme triunfo para a oposição democrática, tendo dado origem a eleições parlamentares parcialmente livres, cujos resultados foram um golpe esmagador para o Partido Comunista no Governo.
   A aceitação destes resultados por parte de Moscou, inclusive com a formação de um governo sob a liderança do não comunista Tadeusz Mazowiecki, representou um sinal para o resto da região. Na sequência disto os eventos deram-se a uma velocidade assombrosa. Em Novembro, a incapacidade de deter a vaga de refugiados oriundos da Alemanha de Leste, que entravam na Alemanha Ocidental através da Hungria e da Polônia, levaria à queda do Muro de Berlim. Ao mesmo tempo a Checoslováquia vivia a sua Revolução de Veludo, enquanto a Hungria passava por mudanças semelhantes. O derradeiro evento deste processo – que ganhou notoriedade devido ao derramamento de sangue – foi a derrubada da ditadura de Ceausescu na Roménia (com o ditador e a sua mulher executados à margem da lei, tal como eles próprios tinham governado) no final de Dezembro de 1989. E desta forma a chamada «comunidade de estados socialistas» praticamente deixou de existir.
   No entanto, enquanto a União Soviética se mantivesse de pé, as mudanças na Europa Central não estavam garantidas; a independência destes países era ameaçada pela existência da hegemonia do antigo bloco. Importa recordar que o domínio de Moscou sobre estas nações a partir de 1945 tinha motivos ideológicos, mas também geopolíticos. Ora, os sinais vindos de Moscou ao longo dos três anos após 1989 eram muito inconsistentes e, na maioria dos casos, acentuavam a incerteza relativamente à verdadeira posição da União Soviética perante a Primavera dos Povos que se ia desenrolando do lado de fora das suas fronteiras. O putsch falhado em Agosto de 1991, que pretendia travar a desintegração da União Soviética, demonstrava que havia forças na Rússia que não aceitavam o colapso do comunismo e a desintegração do bloco. Mas as forças centrípetas mostraram-se mais fortes. A 12 de Dezembro de 1991, os líderes da Rússia, da Ucrânia e da Bielorrússia confirmaram a desagregação da URSS.
(Artigo de Roman Kuz´niar ;  A Primavera dos Povos de 1989 a transformação dos princípios Fundamentais da política externa polaca)

A REVOLUÇÃO ISLÃMICA DO IRÃ E O FUZILAMENTO DE CEAUSESCU 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O ETERNO RETORNO









O Calendário Maia

   A civilização maia foi uma das primeiras civilizações a ter o conceito do numeral zero em suas inscrições. Alem deste conceito inovador, a língua Maia comparada com de outras sociedades pré-colombianas, era uma das mais complexas da América, atribuindo aos símbolos valores fonéticos, assim como a língua Egípcia antiga.
O calendário maia era usado para prever augúrios e estava ligado a uma enorme tecnologia astronômica para época. Este povo que não possuía os telescópios avançados de hoje, consegue a façanha de determinar o calendário mais preciso de todas as civilizações antigas rivalizando-se com calendário atual. Segundo Paul Geandrop:

“Todos os grandes povos da Mesoamérica sentiram-se poderosamente fascinados pelo mistério do cosmo: a recorrência cíclica e previsível dos fenômenos celestes; o ritmo infatigável das estações e a influência destas nas diversas fases da cultura do milho; o próprio ciclo da vida e da morte, do dia e da noite em sua alternância inexorável mas necessária. Com a finalidade de devassar mais profundamente o segredo dos astros, que para ele representava a vontade dos Deuses, o homem mesoamericano moldou, através dos séculos, um aparelho especulativo fortemente complexo.”


 Entendemos então que este calendário além de sagrado tinha a função de compreender o significado da  vida, da agricultura, e o do  “futuro” através dos céus, onde os  Maias liam os sortilégios.

Eskaton
    Jaques lê Goff em seu livro História e Memória conceitualiza o termo Eskaton, filologicamente como: O termo “escatologia” designa a doutrina dos fins últimos, isto é, o corpo de crenças relativas ao destino final do homem e do universo. Tem origem no termo Grego, geralmente empregado no plural ta eschata ou seja, “as ultimas coisas”. O tempo maia do fim Maia é claramente diferente do tempo linear cristão que conhecemos. O tempo desta civilização é circular, infinito e com intuito de renovação ad eternum
   Lê Goff cita em seu livro História e Memória, um autor muito proeminente nestes estudos,  Mircea Eliade, que afirma : “ poderíamos dizer, numa formula sumária, que, para os primitivos, o fim do mundo já existiu, embora se deva repetir num futuro mais ou menos próximo”. Nesta frase traduz exatamente o espírito da escatologia Maia, o caos anterior, se trará a posterior para a renovação, em um período cíclico e  faz alusão as datas destrutivas de seu calendário tão preciso. 
   Os Maias acreditavam que os astros regiam não somente a agricultura, mas todo o dia em suas manifestações metafísicas. Isso gira em torno do pensamento holístico Maia, em que acreditavam fazer parte de todo o universo, e não como hoje, cartesianamente separados.  Segundo  Mircea Eliade:

“Especialmente entre os Índios da América, a “maioria dos mitos do fim implica uma teoria cíclica, ou a crença de que uma catástrofe será seguida de uma nova criação, ou ainda, a crença numa regeneração universal, realizada sem cataclismo.” 

( Texto adaptado de O povo dos céus e suas profecias. Os maias e sua escatologia – um breve estudo comparado. Leandro Gama e Silva de Omena )


@ Maiores informações:

  O CÉU DA SEMANA UNIVESP TV