A 23 anos, no dia 22 de dezembro de 1989 , desaparecia do
leste europeu a ditadura romena de Nicolau Ceausesco
que no auge de seu poder conferiu a si próprio o título de "gênio dos cárpatos" e "grande dirigente" . Depois
de capturado o ditador foi julgado e imediatamente fuzilado no interior da
Romênia com sua esposa Helena.
O final da Guerra
Fria não foi apenas moldado pela política estratégica de Reagan em
conjunto com a crise estrutural do comunismo. Igualmente essencial foi o apoio
demonstrado pelo Ocidente em relação à liberalização do sistema comunista. Até
certo ponto, os parceiros do Ocidente neste processo eram um conjunto de
líderes comunistas que desejavam uma reforma do sistema. Mas mais importante do
que isso foi a oposição democrática que começou a emergir em meados dos anos 1970
no seio de alguns estados comunistas (os primeiros grupos da oposição
anticomunista não tinham qualquer apoio por parte do Ocidente).
O processo da CSCE (Conferência
de Segurança e Cooperação Europeia) veio criar as condições que
possibilitaram tudo isso. Da conferência resultaram os Acordos de Helsínqui,
assinados pelos líderes ocidentais e do Leste da Europa. Os acordos obrigavam
os seus signatários a respeitar os direitos humanos, o que permitia a ligação
dessa vertente com outras esferas das relações entre estados, incluindo as
questões econômicas e de segurança. Os princípios da Ata Final abriam a
possibilidade de os estados ocidentais usarem o comércio e as políticas de
empréstimos para exercer pressão sobre os governos comunistas. Esses princípios
também acabaram por lançar as bases da legitimação das atividades da oposição
democrática. Questões de direitos humanos, liberdades fundamentais e a autodeterminação
nacional eram o tópico primordial de debate e de negociação durante a CSCE. No
decorrer das negociações os estados comunistas aperceberam-se de que se não
fizessem concessões naquelas áreas ver-se-iam isolados e privados do apoio
ocidental para as suas reformas econômicas
Como hoje sabemos, o
resultado cumulativo destes processos foi a derrocada espantosamente rápida,
embora relativamente pacífica, do comunismo, primeiro nos países da Europa
Central (1989) e pouco depois na União Soviética (1991). Esses acontecimentos na
Europa Central receberam a designação de «Primavera dos Povos», embora,
erradamente, alguns autores polacos lhe chamem o «Outono dos Povos». Trata-se
aqui de uma «primavera» metafórica (à semelhança do que aconteceu com a
original Primavera dos Povos, em 1848, que na verdade teve início em
Fevereiro), uma Primavera que consistia na independência renovada das nações
daquela região. De fato, a Primavera de 1989 começou em Abril, com o acordo da
Mesa-Redonda polaca, um enorme triunfo para a oposição democrática, tendo dado
origem a eleições parlamentares parcialmente livres, cujos resultados foram um
golpe esmagador para o Partido Comunista no Governo.
A aceitação destes
resultados por parte de Moscou, inclusive com a formação de um governo sob a
liderança do não comunista Tadeusz Mazowiecki, representou um sinal para o resto da
região. Na sequência disto os eventos deram-se a uma velocidade assombrosa. Em
Novembro, a incapacidade de deter a vaga de refugiados oriundos da Alemanha de
Leste, que entravam na Alemanha Ocidental através da Hungria e da Polônia,
levaria à queda do Muro de Berlim. Ao mesmo tempo a Checoslováquia vivia a sua Revolução
de Veludo, enquanto a Hungria passava por mudanças semelhantes. O
derradeiro evento deste processo – que ganhou notoriedade devido ao derramamento
de sangue – foi a derrubada da ditadura de Ceausescu na Roménia (com o ditador
e a sua mulher executados à margem da lei, tal como eles próprios tinham
governado) no final de Dezembro de 1989. E desta forma a chamada «comunidade de
estados socialistas» praticamente deixou de existir.
No entanto, enquanto a
União Soviética se mantivesse de pé, as mudanças na Europa Central não estavam
garantidas; a independência destes países era ameaçada pela existência da
hegemonia do antigo bloco. Importa recordar que o domínio de Moscou sobre estas
nações a partir de 1945 tinha motivos ideológicos, mas também geopolíticos. Ora, os sinais vindos de Moscou ao longo dos três anos após
1989 eram muito inconsistentes e, na maioria dos casos, acentuavam a incerteza
relativamente à verdadeira posição da União Soviética perante a Primavera dos
Povos que se ia desenrolando do lado de fora das suas fronteiras. O putsch
falhado em Agosto de 1991, que pretendia travar a desintegração da União
Soviética, demonstrava que havia forças na Rússia que não aceitavam o colapso
do comunismo e a desintegração do bloco. Mas as forças centrípetas mostraram-se
mais fortes. A 12 de Dezembro de 1991, os líderes da Rússia, da Ucrânia e da
Bielorrússia confirmaram a desagregação da URSS.
(Artigo de Roman Kuz´niar ; A Primavera dos Povos de 1989 a transformação
dos princípios Fundamentais da política externa polaca)
A REVOLUÇÃO ISLÃMICA DO IRÃ E O FUZILAMENTO DE CEAUSESCU