sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O GÊNIO DOS CÁRPATOS




A 23 anos,  no dia 22 de dezembro de 1989 , desaparecia do leste europeu a ditadura romena de Nicolau  Ceausesco  que no auge de seu poder conferiu a si próprio o título de  "gênio dos cárpatos" e "grande dirigente" . Depois de capturado o ditador foi julgado e imediatamente fuzilado no interior da Romênia com sua esposa Helena.


   O final da Guerra Fria não foi apenas moldado pela política estratégica de Reagan em conjunto com a crise estrutural do comunismo. Igualmente essencial foi o apoio demonstrado pelo Ocidente em relação à liberalização do sistema comunista. Até certo ponto, os parceiros do Ocidente neste processo eram um conjunto de líderes comunistas que desejavam uma reforma do sistema. Mas mais importante do que isso foi a oposição democrática que começou a emergir em meados dos anos 1970 no seio de alguns estados comunistas (os primeiros grupos da oposição anticomunista não tinham qualquer apoio por parte do Ocidente).
   O processo da CSCE (Conferência de Segurança e Cooperação Europeia) veio criar as condições que possibilitaram tudo isso. Da conferência resultaram os Acordos de Helsínqui, assinados pelos líderes ocidentais e do Leste da Europa. Os acordos obrigavam os seus signatários a respeitar os direitos humanos, o que permitia a ligação dessa vertente com outras esferas das relações entre estados, incluindo as questões econômicas e de segurança. Os princípios da Ata Final abriam a possibilidade de os estados ocidentais usarem o comércio e as políticas de empréstimos para exercer pressão sobre os governos comunistas. Esses princípios também acabaram por lançar as bases da legitimação das atividades da oposição democrática.                   Questões de direitos humanos, liberdades fundamentais e a autodeterminação nacional eram o tópico primordial de debate e de negociação durante a CSCE. No decorrer das negociações os estados comunistas aperceberam-se de que se não fizessem concessões naquelas áreas ver-se-iam isolados e privados do apoio ocidental para as suas reformas econômicas
   Como hoje sabemos, o resultado cumulativo destes processos foi a derrocada espantosamente rápida, embora relativamente pacífica, do comunismo, primeiro nos países da Europa Central (1989) e pouco depois na União Soviética (1991). Esses acontecimentos na Europa Central receberam a designação de «Primavera dos Povos», embora, erradamente, alguns autores polacos lhe chamem o «Outono dos Povos». Trata-se aqui de uma «primavera» metafórica (à semelhança do que aconteceu com a original Primavera dos Povos, em 1848, que na verdade teve início em Fevereiro), uma Primavera que consistia na independência renovada das nações daquela região. De fato, a Primavera de 1989 começou em Abril, com o acordo da Mesa-Redonda polaca, um enorme triunfo para a oposição democrática, tendo dado origem a eleições parlamentares parcialmente livres, cujos resultados foram um golpe esmagador para o Partido Comunista no Governo.
   A aceitação destes resultados por parte de Moscou, inclusive com a formação de um governo sob a liderança do não comunista Tadeusz Mazowiecki, representou um sinal para o resto da região. Na sequência disto os eventos deram-se a uma velocidade assombrosa. Em Novembro, a incapacidade de deter a vaga de refugiados oriundos da Alemanha de Leste, que entravam na Alemanha Ocidental através da Hungria e da Polônia, levaria à queda do Muro de Berlim. Ao mesmo tempo a Checoslováquia vivia a sua Revolução de Veludo, enquanto a Hungria passava por mudanças semelhantes. O derradeiro evento deste processo – que ganhou notoriedade devido ao derramamento de sangue – foi a derrubada da ditadura de Ceausescu na Roménia (com o ditador e a sua mulher executados à margem da lei, tal como eles próprios tinham governado) no final de Dezembro de 1989. E desta forma a chamada «comunidade de estados socialistas» praticamente deixou de existir.
   No entanto, enquanto a União Soviética se mantivesse de pé, as mudanças na Europa Central não estavam garantidas; a independência destes países era ameaçada pela existência da hegemonia do antigo bloco. Importa recordar que o domínio de Moscou sobre estas nações a partir de 1945 tinha motivos ideológicos, mas também geopolíticos. Ora, os sinais vindos de Moscou ao longo dos três anos após 1989 eram muito inconsistentes e, na maioria dos casos, acentuavam a incerteza relativamente à verdadeira posição da União Soviética perante a Primavera dos Povos que se ia desenrolando do lado de fora das suas fronteiras. O putsch falhado em Agosto de 1991, que pretendia travar a desintegração da União Soviética, demonstrava que havia forças na Rússia que não aceitavam o colapso do comunismo e a desintegração do bloco. Mas as forças centrípetas mostraram-se mais fortes. A 12 de Dezembro de 1991, os líderes da Rússia, da Ucrânia e da Bielorrússia confirmaram a desagregação da URSS.
(Artigo de Roman Kuz´niar ;  A Primavera dos Povos de 1989 a transformação dos princípios Fundamentais da política externa polaca)

A REVOLUÇÃO ISLÃMICA DO IRÃ E O FUZILAMENTO DE CEAUSESCU